
A Nação Xambá é uma religião afro-brasileira ativa em Olinda, Pernambuco. Alguns autores, como Olga Caciatore e Reginaldo Prandi, afirmam que este culto está praticamente extinto no país.
No início da década de 1920, a perseguição política de que eram vítimas as religiões afro-brasileiras no país, levou o babalorixá Artur Rosendo Pereira, a fugir de Maceió, capital do estado de Alagoas, vindo a estabelecer-se por volta de 1923 na rua da Regeneração, no bairro de Água Fria, na cidade do Recife, em Pernambuco.
Antes desse episódio, ainda vivendo em Maceió, Rosendo havia viajado até à costa da África, onde permaneceu por quatro anos com "Tio Antônio", que trabalhava no mercado de Dakar, no Senegal, vendendo panelas, conforme narra René Ribeiro.
Rosendo iniciou muitos filhos de santo, tendo muitos deles aberto terreiro. Entre estes destacou-se Maria das Dores da Silva - "Maria Oyá" - iniciada em 1928. A saída de iyawó de Maria Oyá foi realizada sem o toque dos tambores e cantada em voz baixa ainda devido à perseguição, que entretanto persistia. Pouco depois da iniciação de Maria Oyá, Rosendo voltou para Maceió.
Em 1930, Maria Oyá inaugurou o próprio terreiro, à rua da Mangueira, no bairro de Campo Grande no Recife. Com a conclusão de sua iniciação (13 de dezembro de 1932), recebeu no barracão as folhas, a faca e a espada das mãos de seu babalorixá, que realizou ao meio dia o ritual de coroação de Oyá no trono.
Em 1932 Maria Oyá tirou o seu primeiro barco de três iyawôs. No mesmo ano, iniciou o seu segundo barco de iyawôs, maior, e iniciando nomeadamente Donatila Paraíso do Nascimento ("Mãe Tila") que, em 1933, assumiu o cargo de Mãe Pequena do terreiro Santa Bárbara. Donatila veio a falecer em 2003 aos 92 anos de idade, tendo passado seis décadas de sua vida no cargo. Uma outra filha ilustre foi Lídia Alves da Silva ("Talabi").
A sucessão de iniciações aumentou desde então. Em junho de 1935 Maria Oyá iniciou nos ritos a sua sucessora, Severina Paraíso da Silva, "Mãe Biu".
Com o advento do Estado Novo no país, diante da violência policial cada vez mais maior, em 1938 Maria Oyá foi obrigada a encerrar o seu terreiro, vindo a falecer no ano seguinte (1939). Esse momento de perseguições manterá os terreiros de outras nações de candomblé cultuadas em Pernambuco, e seus fieis tolhidos, até 1950.
Mãe Biu de Oyá Megué reabriu o terreiro de Xambá em 1950, agora na estrada do Cumbe nº 1012, no bairro de Santa Clara, no Recife, tendo como babalorixa o Sr. Manoel Mariano da Silva, como Iyalorixá D. Eudoxia, como padrinho o Sr. Luiz da Guia e como madrinha D. Severina. Dez meses após, a 7 de abril de 1951 a instituição mudou-se para o atual endereço, na antiga rua Albino Neves de Andrade, atual rua Severina Paraíso da Silva nº 65 (em homenagem a Mãe Biu), na localidade do Portão do Gelo, bairro de São Benedito, em Olinda.
Com o falecimento de Mãe Biu (1993), que durante 54 anos dirigiu o terreiro Xambá, auxiliada por Mãe Tila, esta assumiu o cargo de Iyalorixá que exerceu por 10 anos, tendo como babalorixá o seu sobrinho carnal Adeildo Paraíso, filho carnal de Mãe Biu. Conhecido popularmente como Ivo do Xambá, ele convocou os seus filhos de santo, os professores António Albino, Hildo Leal e João Monteiro, para elaborarem um projeto para transformar o Terreiro Portão do Gelo, no Memorial do Xambá, onde se encontram reunidos e preservados documentos fotográficos e objetos ligados à vida e à atuação daquela líder religiosa, bem como da memória do "Terreiro Santa Bárbara Nação Xambá".
Em 2004, com o falecimento de Mãe Tila, assumiu a Iyalorixá Maria de Lourdes da Silva de Iemanjá, iniciada por Mãe Biu em 18 de maio de 1958.
Em paralelo ao trabalho de preservação do Memorial do Xambá, destaca-se a atuação do Grupo Bongar, formado por seis percussionistas e cantores da Nação Xambá, que realiza um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião Xambá e de sua dança tradicional o coco.
Orixás
Apesar de os Orixás serem praticamente os mesmos do Candomblé, existe diferença na sua forma de culto. Os orixás cultuados na tradição Xambá são:
Exú – Ogum – Odé – Bêji – Nanã – Obaluaiê – Ewá
Xangô – Oyá – Obá – Afrekete – Oxum – Yemanjá – Orixalá
Ritual
O ritual é semelhante ao do Candomblé.
Calendário de festas:
Toque de Obaluaiê - 21 de janeiro
Toque de Oxum - 11 de fevereiro
Toque de Ogum - 29 de abril
Toque de Yemanjá - 27 de maio
Toque de Xangô - 17 de junho
Coco da Xambá - 29 de junho - Aniversário de Mãe Biu
Toque de Orixalá - 29 de julho
Aniversário do Babalorixá da Casa - Ivo do Xambá - 06 de agosto
Dia do Quilombo Urbano do Portão do Gelo3 - 24 de setembro
Toque de Bêji - 30 de setembro
Toque do Inhame - 28 de outubro
Dia da Consciência Negra - 20 de novembro
Louvação de Oyá - 12:00 - 13 de dezembro
Toque de Oyá - 16 de dezembro
Os toques sempre são as 16 horas da tarde. Em todos os toques é servido aos filhos de santo da casa e aos convidados um café com manguzá, que é tradição da casa.
Aos visitantes:
Não é permitido uso de roupas pretas
O homem deve se vestir de calça (nunca bermuda, short ou camiseta regata)
A mulher deve se vestir de saia ou vestido abaixo do joelho (nunca de calça nem camiseta)
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